quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Veias urbanas









O sol desaba sobre a cidade em rebuliço. O poeta insiste em colocar no papel toda sorte de esquisitices e disparidades, coisa de artista, coisa de fotógrafo. Pendurado em postes, semáforos e cangotes vai detalhando, narrando o obscuro, e ai de quem se intrometer entre o fotógrafo e a cidade, são de suas andanças que a matéria vista de torna. Caminhar insondável que se encontra algum tipo de sentido quando desaguado em suas tele-objetivas. Uma relação íntima que sem dúvida tem de ser classificada como universal, mas que também em certos lugares, em certos dias e noites particulares, ganha contornos diferenciados e assume maior intensidade.
A cidade é o teatro das ações humanas. Desde milênios, ela esteve ligada a tudo que remete ao florescer da vida em civilização: o comércio, a escrita, a agricultura, os primeiros assentamentos humanos. Dos primeiros aglomerados urbanas às megametrópoles, a história se inscreve em memórias de pedras, história petrificada que exibe ao longo do tempo uma sociabilidade complexa e diversificada. Espaço passível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido através do corpo, assim como declama Mário Quintana: "olho o mapa da cidade como quem examinasse a anatomia de um corpo...".


Porém, devemos nos lembrar que toda cidade carrega em si a dialética do concreto: insere-se, ao mesmo tempo, em um mapa geográfico e simbólico que estabelece renovadas formas de sensibilidade. Assim, RAFAEL VILAROUCA criou o seu Veias Urbanas. Fotografias reunidas que estabelecem a conexão entre seres e cidade. Em seu mundo de luz e lente, os homens imperam  como a grande força geradora de vida e criatividade. Os corpos, latentes em seus anseios, são declarações de desejos confessos. "A idéia surgiu a partir do que existe de imagético no centro da cidade. O excesso de informação, as pessoas, as cores, os cartazes... a partir disso, eu quis fazer um trabalho com o masculino lincando com as estátuas greco-romanas. Eu queria sensualizar o masculino, utilizando o centro da cidade como plano de fundo, como objeto da exposição", fala Rafael.

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