sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Entrevista com José Rincón e Francisco Lara


Regina Raick entrevista José Rincón e Francisco Lara, dois artistas espanhóis que se encontram em Sobral em função da programação do "Imprima 2012". Ambos possuem grande influência no mundo das Artes Plásticas, suas participações são consideradas de extrema importância por seus conhecimentos elevados e por compartilhar conosco algumas técnicas de gravura essenciais no mundo da produção artística contemporânea.
José Rincón revela sua trajetória enquanto artista e suas grandes influências para a realização da mesma, destacando os desafios que a vida lhe impunha que por sua vez foram triviais para a conquista de seus objetivos. Rincón define a arte como a junção do sentimentalismo e da reflexão. Na concepção de Francisco Lara ''as técnicas e os ofícios da arte são fundamentais'', funcionam como um mecanismo que possibilita realizar e expressar tudo aquilo que se sente.
Os artistas revelam que a auto crítica é fundamental, as críticas vindas de fora podem ser agradáveis ou não, mas, por outro lado sempre nos ensina coisas positivas, detalhes não observados que trazem novas perspectivas. O grande desafio proposto por estes na realidade é colocar os artistas de uma forma em que possam dialogar entre si sem fronteiras, que a criatividade e a liberdade de expressão esteja presente a induzir e conduzindo processos criativos.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

LIVRO DE ARTE URBANA DO NORDESTE



Imagina a sua arte sendo publicada em um livro especializado sobre arte urbana, junto com outros grandes artistas nordestinos. Quer saber como tornar isso realidade?

Está rolando as inscrições para os interessados em ter o seu trabalho publicado no livro "A Arte Urbana do Nordeste do Brasil". O projeto visa documentar a atual produção dos artistas da região nordeste.

As inscrições estarão abertas, até o dia 31 de outubro e serão validas apenas para artistas originários e atuantes na região nordeste. Para participar envie 3 fotos de seus trabalhos, release, endereço na web e outros contatos para: arteurbananordeste@gmail.com

Exposição de Artes Visuais Nós: 5 Artistas Sobralenses com curadoria de Ed Ferrera.



O Grupo Haja Vista, reune suas obras na Exposição de Artes Visuais Nós: 5 Artistas Sobralenses com curadoria de Ed Ferrera.

Os artistas Anderson Morais, Berg Correia, Fábio Solon, Wagner Moraes e Wescley Braga compõem a coletiva com cerca de 50 obras.
informaçoes
http://grupohajavista.blogspot.com.br/2012/09/convite-nos-5-artistas-sobralenses.html

exposição Weaver Discos, do Weaver Lima, no Ecoa Sobral



O artista plástico cearense Weaver Lima abre hoje a exposição “Weaver Discos – Pop Descarado”, que reúne 15 capas de discos das bandas favoritas do artista, todas redesenhadas e estilizadas, multiplicadas em 300 peças de puro Pop Art.

Em 2002, o até então quadrinista, Weaver Lima, fazia sua estreia nas artes plásticas aqui em Sobral. Hoje, 10 anos depois, o artista plástico retorna à cidade com a exposição “Weaver Discos – Pop Descarado”, uma mistura de dois ingredientes amados por Weaver – Música e Arte. O resultado são obras de puro Pop Art. A exposição abre as portas pela primeira vez hoje, 16, a partir das 19h30min, na Ecoa. As obras ficam expostas até o dia 16 de novembro.
A exposição, segundo Weaver, é como se fosse a sua própria loja de discos em uma versão meio brega, como ele mesmo define. “A exposição tem o nome de “Weaver Discos” porque ela faz uma alusão a uma loja de discos. Aquela coisa meio popular, meio brega, que o cara colocava seu próprio nome na loja de disco. Na verdade é uma brincadeira com isso”, explica.
“Weaver Discos – Pop Descarado” reúne 15 capas de discos das bandas favoritas do artista, todas redesenhadas e estilizadas e multiplicadas em 300 peças, alterando as cores dos fundos. “Eu peguei as bandas que eu gosto e criei essas 15 capas fictícias, usando imagens de artistas que eu gosto também – quadrinistas, artistas plásticos, fotógrafos –. Eu refiz os desenhos através do meu traço e fiz alterações na imagem como as cores e o próprio desenho. Cada um desses discos traz essa informação de uma banda que eu gosto com um artista que eu gosto, unindo as duas coisas”, conta Weaver.
Pop Art é um estilo explícito nas obras, com os seus principais elementos de cores e formatos e, segundo Weaver, daí vem o subtítulo da exposição “Pop Descarado”. “É porque as obras são meio Pop. O subtítulo é uma maneira de acentuar que realmente é um Pop meio que se assumindo como Pop. Hoje em dia, com a história do contemporâneo, quebrou-se um pouco esses ismos na arte, é como se o Pop tivesse ficado uma coisa meio datada daquela época. Então a exposição é assumindo que é Pop mesmo. O que eu faço tem essa pegada de Pop Art”.
Musica e arte - Ingredientes perfeitos
O estilo eclético do artista conseguiu reunir várias bandas, uma mistura de estilos como punk, post punk, pop e alternativo, são elas: Kraftwerk, Second Come, Pixies, Smiths, R.E.M, Ramones, Joy Division, Radiohead, Velvet Underground, Beck, PJ Harvey, Jesus and Mary Chain, Nick Cave, Leonard Cohen e Tindersticks. Para descobrir qual banda é sugerida em cada obra, Weaver expõe alguns elementos que instigam a imaginação dos visitantes.
Dos artistas inspirados nas obras, Weaver buscou nomes importantes das artes plásticas, quadrinismo e fotografia. “Uma das grandes influências no meu trabalho é Roy Lichtenstein, que é considerado um dos papas da Pop Art. Para essa exposição eu acabei pegando artistas que eu sei que a imagem combina muito com a música. Aí eu fiz esse jogo. Quando eu crio uma capa fictícia eu estou ligando dois artistas que podem casar muito bem”, explica.
As histórias dos personagens usados na composição dos quadros também chamam atenção nas obras. Uma delas é a Luba, uma personagem de história em quadrinhos americana que anda com um martelo para se proteger dos homens em uma cidade selvagem.
Segundo Weaver, “as pessoas vão encontrar uma exposição com referências de cultura independente, música, quadrinhos e pop art. Visualmente vai ser muito interessante para quem gosta de artes visuais, pelo mosaico colorido que vamos criar aqui na sala. Acho que é a primeira vez que alguém vai usar essa sala da maneira como eu estou usando, ocupar a sala completa com os 300 trabalhos, é uma quantidade um pouco grande”. De Sobral a exposição segue para São Paulo.
Quando eu estava fazendo essa exposição, e quando a gente faz quase tudo da Monstra, a gente pensa muito em fazer uma coisa que a gente gostaria de ver. A primeira coisa é isso. Eu me diverti muito fazendo porque eu fiz realmente uma exposição do que eu gostaria de ver em exposição.
O Artista
Weaver Lima é cearense, autor de histórias em quadrinhos, curador e articulador cultural, sendo um dos mais atuantes artistas a produzir e discutir o meio cultural independente no Brasil. Desde 2002 o artista se dedica as artes visuais participando de diversas coletivas, dentre elas “Transfer”, “Goiânia Noise 15 anos”, 15 visões”, e “Pra Começo de Século”. Atualmente Weaver integra o Coletivo MONSTRA.
Coletivo MONSTRA
Formada por Weaver Lima, Franklin Stein, Everton Silva, Ise Araújo, Jabson Rodrigues, Lui Duarte, Mychel T.C. e Saulo Tiago os artistas do Coletivo MONSTRA mesclam desenho, ilustração, quadrinhos, além de em diferentes técnicas e suportes, como grafite, escultura, fotografia e experimentações em vídeo. O grupo se destaca no cenário cearense como um dos movimentos artísticos mais ativos do momento. A influência para a criação das obras vem da Pop Art e do movimento artístico Lowbrow.
“Esse ano trabalhamos para a Feria da Música. Foi o trabalho mais recente fizemos. Produzimos as camisetas, os pôsteres das bandas e, toda a identidade visual do evento. Atualmente estamos tentando fechar algumas exposições. Temos a exposição “13 obras que você não colocaria na sala da sua casa” que já aconteceu em Juazeiro do Norte, Fortaleza e Teresina. Deveremos expor em Recife no começo do ano. A ideia é rodar com ela por todo o nordeste”, conta Weaver.
A exposição “13 obras que você não colocaria na sala da sua casa” apresenta ao público quadros atípicos, trazendo imagens diferentes do que está habituado a ser utilizado na sala de um lar. A exposição é realizada em duas etapas. Na primeira, os trabalhos são espalhados em pontos da cidade, com a intenção de ver a reação das pessoas diante de uma obra de arte largada na rua. Na segunda etapa, as telas serão expostas na galeria e, caso o visitante se interesse por alguma delas, tem a liberdade de levá-la para casa gratuitamente. A exposição é uma ação conceitual desenvolvida com a intenção de discutir o tipo de produção artística que é “aceitável”, assimilada e considerada boa arte pela população.


Serviço:
Exposição Weaver Discos – Pop Descarado
Abertura: 16 de outubro de 2012
Horário: 19h30min.
Local: Ecoa (Travessa Adriano Dias, 135 – Centro)
Período: 16 de Out. a 16 de Nov.
Horário de Funcionamento:
Terça e Sexta:
de 8h às 12h e de 4h às 21h
Sábado:
de 9h às 12h e de 17h às 21h
Domingo: 17h às 21h

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O MUSEU E A ARTE CONTEMPORÂNEA


Na arte contemporânea não existe limites estabelecidos para a invenção da obra, embora nem tudo em nome da liberdade, sem critérios e sem o risco de referências, a transgressão sem saber de que, divulgado como arte, é arte. Com o deslocamento dos suportes tradicionais, a exemplo da pintura e da escultura para outras opções estéticas ou experiências artísticas em processo, com o uso de novas tecnologias disponíveis ou não, mas principalmente com um novo conceito do que vem a ser uma obra de arte, hoje em dia, coloca em xeque o museu tradicional. Determinadas linguagens de natureza diversificadas da atualidade solicitam a reformulação de demandas e estratégias museias, um outro modelo museológico e museográfico.

 

Originário do ato de colecionar e preservar, os museus chegaram ao século XXI como instituições indispensáveis à vida e à memória das comunidades, pelo menos em teoria. Inseridos na vida das cidades e amparados por políticas públicas de cultura, muito bem argumentadas no papel, mas sem atrativos para atrair o grande público que prefere o espetáculo dos shoppings ou o paraíso dos templos evangélicos, que oferecem muito mais em troca de um pequeno dízimo: a memória do futuro, a esperança de vida eterna.

 

O fato é que o homem está sempre preocupado em preservar sua história e sua memória, colecionando artefatos. Ele tem acesso ao seu passado através de relatos ou depoimentos de testemunhas oculares, textos, enfim documentos. Quando se defronta com a coleção de imagens e objetos, particularidades da vida social, signos que habitam um museu, caverna moderna onde o homem urbano fixa nas paredes os enigmas de sua passagem no tempo ou no mundo. Com isso, não quero dizer que o museu é um caminho em direção ao passado, ele é um lugar de possíveis diálogos entre passado, presente e futuro. Olhar o passado é“estabelecer uma continuidade entre o que aparentemente deixou de ser e o que ainda vai ser”, (Frederico Morais).

 

O museu é o recipiente de conservar uma coleção e preservar uma herança estética e cultural de um tempo que passou e do presente para significar o possível futuro. Ele ocupa um lugar de destaque entre os diferentes elementos que compõem o sistema da arte. Assim como o hospício e a clínica, é provável ver nele um espaço de confinamento, um espaço sagrado, intocável e asséptico de exposição de objetos, que exige do espectador um ritual de contemplação, quase em silêncio, das chamadas obras de arte.

 

A partir das décadas de 1980 e 90, foram criados centros culturais e museus, em quase todo o mundo, sem se saber ao certo o que colocar neles. Surgiu também uma nova profissão na arte na opinião do critico carioca Wilson Coutinho: “a sua excelência, o curador... Os museus tornaram-se espetáculos que pouco importa o que se mete dentro deles...” . Como se não bastasse tudo isso, com algumas exceções, Tem-se a impressão de que o coquetel, a presença de celebridades e os acidentes do percurso registradas nas colunas sociais são mais importante que a exposição. Diz ainda Coutinho: “Depois que happenings e performances deixaram de ser engraçados, a instalação ocupou, até na maioria dos casos, a nova forma populista de exibição: mexe-se nela, anda-se, escuta-se barulhinhos, morde-se alguma coisa, sente-se o vento, somos obrigados a andar descalços, etc. o que tornou os museus e centros culturais verdadeiros playgrounds para alegrar o adulto idiotizado e a criançacriativa”. Estamos falando de um museu específico, o de arte. Se ele é o espelho de uma produção cultural, em tal contexto, reflete o narcisismo do espetáculo, em detrimento do ponto de vista da reflexão.

Sem recursos financeiros e depois que a responsabilidade cultural foi transferida para a iniciativa privada que tem como principal critério de seus patrocínios o impacto na mídia, muitos museus vêm se transformando em instituições de entretenimento para atrair grandes públicos consumidores de subprodutos culturais, quem sabe também futuros consumidores das marcas que patrocinam os seus eventos.

Um museu não é uma instituição de eventos culturais, o que nele é exposto não deve ser uma experiência isolada de uma política pública de cultura, sem a responsabilidade de um conselho curador, formado por especialistas da área. O gestor deve ser uma espécie de maestro que rege uma orquestra de intelectuais, críticos e técnicos especializados, para desenvolver enunciados para ser praticados e estabelecer relações mais estreitas com a comunidade.

 

Não é um lugar neutro, tem história e implicações ideológicas. Na primeira metade do século XX, o museu de arte era o depósito de repouso do moderno, questionado no início desse século pelo precursor das poéticas contemporâneas, Marcel Duchamp e seu novo paradigma, bem humorado, para a arte: não mais uma coisa criada pelo artista, mas a coisa que o sujeito reconhecido como artista escolhe e decide para ser a obra de arte.

 

Os museus passaram por reformas significativas nos últimos anos, ganharam prestígios e são considerados instituições culturais referência da cidade contemporânea. Surgiu até a indústria de museus, que atua mais a serviço do entretenimento e do turismo do que da memória, da história e do exercício da cidadania, mas capaz de movimentar a economia.Essa difícil conciliaçãocultura e economia que ocupa cada vez mais centro das atenções.

Desde quando a política e a economia reservaram à cultura um espaço quase que insignificante, dentro das prioridades da vida urbana, interesses alheios comprometeram o funcionamento das instituições culturais. A cidade precisa de tecnologias, partidos políticos, técnicos, políticos, empresários, especialistas em áreas diversas, etc., mas acima de tudo, precisa de uma tradição cultural e do exercício da cidadania, para que ela própria signifique. Um museu guarda mais do que obras e objetos de valor e de prestígio social, uma situação, um fragmento da história, portanto um problema cultural. Tudo que nele é exibido deve ter um compromisso com o conhecimento, a memória e a reflexão. Sua programação não deveria ser decidida por patrocinadores que tem como objetivo final vender produtos muitas vezes até desnecessários, e circular uma imagem de que está contribuindo para o “desenvolvimento cultural”.

 

Os museus se modernizaram conceitualmente, ressaltando sua importância para a sociedade e o direito à memória. O de arte como lugar passivo foi desarticulado com o Minimalismo na década de 1960 e logo em seguida a Arte Conceitual entrou em cena questionando de forma crítica e decisiva as instituições culturais, em especial o museu, o templo da sacralização da arte. O embate foi travado entre o museu e as novas propostas artísticas, efêmeras, privilegiando a ideia contra a materialidade que se armazena na instituição e alimenta o mercado de arte com mercadorias. A arte, desde então, passou a ser uma usina geradora de críticas, provocações e incômodos. Os mal-entendidos entre a arte e a instituição museal foram inevitáveis e imprevisíveis.

 

Falar de museu de arte no Brasil é difícil não lembrar Mário Pedrosa. Vejam a atualidade de seu pensamento, no texto “Arte Experimental e Museus”, publicado em 1960: “Diferente do antigo museu, do museu tradicional que guarda, em suas salas as obras primas do passado, o de hoje é, sobretudo, uma casa de experiências. É um paralaboratório. É dentro dele que se pode compreender o que se chama de arte experimental, de invenção.” Esse lugar de experiências é também ocupado por um acervo, é um lugar privilegiado do pensamento, da crítica e do lazer criativo para uma apropriação consciente do patrimônio.

 

O caráter problematizador da produção contemporânea praticamente rejeitou o estatuto da obra de arte como produto, isto contrariou interesses do mercado e o desejo de classificar e acomodar da instituição museológica. Para a arte contemporânea, o museu com sua arquitetura característica, com função de alojar uma diversidade de procedimentos, é um laboratório de ensaio do que pode ser uma obra de arte, um campo de experimentação. O museu é indispensável, é o ponto de partida e a estação de chegada. É ele que legitima o que se designa experiência artística. E o papel do museu, mais do que armazenar obras, é ser um espaço de pensamento crítico e educativo, frequentado por um público ativo e não mero observador do que está em exposição.

 

De certa forma, a arte produzida hoje, expõe feridas da cultura e do sistema da arte. E o imaginário museal tem uma importância na formação do olhar capaz de pensar sobre a arte, do olhar que deixou de contemplar passivamente para experimentar e vivenciar. A arte de hoje não nos diz nada como a arte do passado, ela convida o espectador para refletir sobre o que é uma obra de arte e suas relações com o sistema institucional. Nesse caso, o museu é o lugar privilegiado para o exercício do pensamento, até porque, as obras efêmeras são transferidas ou resgatadas para dentro do discurso e da instituição museológica pelos documentos, registros e reproduções.

 

Os museus, em particular os de arte, ultrapassaram a simples função de guardar e preservar bens culturais e assumiram várias tarefas e outras funções como o ensino livre da arte, foram equipados com bibliotecas, auditórios para debates, conferências, cinemateca. Umas das principais vanguardas brasileiras na arte o “Neoconcretismo” surgiu praticamente no curso do prof. Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A prática museológica tende a se ampliar e integrar o desenvolvimento urbano, seu objeto de estudo diz respeito também à paisagem urbana, ruas, praças, quarteirões. “Museu é o mundo; é a experiência cotidiana…”, (Hélio Oiticica). As cidades, principalmente as cidades históricas são espaços museográficos.

 

Almandrade

(artista plástico, poeta e arquiteto)

revista AS pARTEs , n º 6 - Porto Alegre

 

sábado, 18 de agosto de 2012

Funarte lança quatro editais de artes visuais Inscrições estão abertas para o Prêmio Marcantonio Vilaça, Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, Rede Nacional Artes Visuais e Bolsa de Estímulo à Produção em Artes VisuaisA Funarte está com inscrições abertas, até 1º de outubro, para o Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, XII Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais – 9ª Edição e Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais. A portaria foi publicada no Diário Oficial da União de hoje, 16 de agosto de 2012. Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça – O edital visa incentivar produções artísticas destinadas ao acervo das instituições museológicas públicas e privadas sem fins lucrativos, fomentando a difusão e a criação das artes visuais no Brasil e sua consequente formação de público. Serão contemplados 15 projetos, com premiações de R$ 70 mil a R$ 350 mil. XII Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia – O objetivo é estimular a valorização da linguagem fotográfica por meio de produção, pesquisa, criação, reflexão, documentação e circulação, contribuindo assim para a consolidação de um campo específico da fotografia no âmbito da economia da cultura. Serão contemplados 45 projetos, no valor de R$ 50 mil cada, distribuídos em três módulos: inéditos de criação, documentação e produção de reflexão crítica sobre fotografia, visando à difusão, ao fomento, à reflexão e à produção fotográfica. Programa Rede Nacional Funarte Artes – 9ª Edição – O edital visa fomentar a reflexão e o debate sobre as artes visuais, desenvolver instrumentos de capacitação para artistas e técnicos do setor e promover a circulação dos profissionais da área por todo o país, além de estimular a formação de público. Serão selecionados 30 projetos que promovam o intercâmbio inter-regional por meio de um conjunto amplo de atividades e experimentações ligadas às artes visuais, tais como: oficinas artísticas, oficinas de qualificação, workshops, palestras, performances, instalações, novas mídias, seminários, intervenções, exposições, atividades pedagógicas e pesquisa de linguagem. O valor da premiação para cada contemplado é de R$ 100 mil. Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais – O objetivo é fomentar a formação de artistas e demais profissionais das artes visuais e a produção de arte contemporânea brasileira, dando possibilidades às experimentações das linguagens, de técnicas e de poéticas, além de estimular a reflexão e o debate sobre as artes visuais. Serão selecionados dez projetos na categoria Bolsa Estímulo à Criação Artística e cinco na categoria Bolsa Estímulo à Produção Crítica. Cada contemplado receberá R$ 40 mil.




 A Funarte está com inscrições abertas, até 1º de outubro, para o Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, XII Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais – 9ª Edição e Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais. A portaria foi publicada no Diário Oficial da União de hoje, 16 de agosto de 2012.
Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça – O edital visa incentivar produções artísticas destinadas ao acervo das instituições museológicas públicas e privadas sem fins lucrativos, fomentando a difusão e a criação das artes visuais no Brasil e sua consequente formação de público. Serão contemplados 15 projetos, com premiações de R$ 70 mil a R$ 350 mil.
XII Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia – O objetivo é estimular a valorização da linguagem fotográfica por meio de produção, pesquisa, criação, reflexão, documentação e circulação, contribuindo assim para a consolidação de um campo específico da fotografia no âmbito da economia da cultura. Serão contemplados 45 projetos, no valor de R$ 50 mil cada, distribuídos em três módulos: inéditos de criação, documentação e produção de reflexão crítica sobre fotografia, visando à difusão, ao fomento, à reflexão e à produção fotográfica.
Programa Rede Nacional Funarte Artes – 9ª Edição – O edital visa fomentar a reflexão e o debate sobre as artes visuais, desenvolver instrumentos de capacitação para artistas e técnicos do setor e promover a circulação dos profissionais da área por todo o país, além de estimular a formação de público. Serão selecionados 30 projetos que promovam o intercâmbio inter-regional por meio de um conjunto amplo de atividades e experimentações ligadas às artes visuais, tais como: oficinas artísticas, oficinas de qualificação, workshops, palestras, performances, instalações, novas mídias, seminários, intervenções, exposições, atividades pedagógicas e pesquisa de linguagem. O valor da premiação para cada contemplado é de R$ 100 mil.
Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais – O objetivo é fomentar a formação de artistas e demais profissionais das artes visuais e a produção de arte contemporânea brasileira, dando possibilidades às experimentações das linguagens, de técnicas e de poéticas, além de estimular a reflexão e o debate sobre as artes visuais. Serão selecionados dez projetos na categoria Bolsa Estímulo à Criação Artística e cinco na categoria Bolsa Estímulo à Produção Crítica. Cada contemplado receberá R$ 40 mil.

Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais – 9ª Edição

O edital visa selecionar 30 projetos que promovam o intercâmbio inter-regional por meio de  atividades e experimentações ligadas às artes visuais, tais como: oficinas artísticas, oficinas de qualificação, workshops, palestras, performances, instalações, novas mídias, seminários, intervenções, exposições, atividades pedagógicas e pesquisa de linguagem. O valor da premiação para cada contemplado é de R$ 100 mil.
O programa visa fomentar a reflexão e o debate sobre as artes visuais, desenvolver instrumentos de capacitação para artistas e técnicos do setor e promover a circulação dos profissionais da área por todo o país, além de estimular a formação de público.  As propostas encaminhadas deverão contemplar o intercâmbio inter- regional entre artistas e/ou demais agentes culturais.
Acesse o edital e demais documentos ao lado, em “arquivos relacionados”.

Bolsa Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura 2012




A Fundação Nacional de Artes – Funarte publicou, nesta sexta-feira, 17 de agosto, no Diário Oficial da União, a portaria que regulamenta o Edital da Bolsa Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura 2012. O Prêmio, realizado em parceria com a Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, vai contemplar 50 projetos de residências artísticas em todo o território nacional. O aporte financeiro é de R$ 2.795.664 milhões, dos quais R$ 2,5 milhões serão concedidos em bolsas.
A Bolsa Interações Estéticas tem como objetivo apoiar projetos por meio do intercâmbio cultural e estético em rede, através de iniciativas de residências, que promovam a mobilidade, a experimentação artística e a reflexão crítica, fortalecendo e realimentando com ações inovadoras a rede de artistas e pontos de cultura e comunidades que, direta ou indiretamente, se relaciona com o projeto desenvolvido.
Pessoas físicas maiores de 18 anos, brasileiros natos ou naturalizados e estrangeiros residentes no país há mais de três anos, podem concorrer em duas categorias: Criação e Experimentação e Continuidade. Na modalidade Criação e Experimentação, o artista escolhe um Ponto de Cultura para realizar um projeto de residência artística que tenha como foco interações entre culturas e comunidades de diferentes partes do país. O principal vetor é o intercâmbio intercultural. Obrigatoriamente, o artista deve escolher um Ponto de Cultura fora da região geográfica onde reside.
A categoria Continuidade é exclusiva para aqueles que já ganharam pelo menos uma das edições anteriores do Edital Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura (2008, 2009 ou 2010) e permite que o artista possa dar continuidade ao  projeto, apresentando uma perspectiva de inovação e sustentabilidade. Também será permitido ao artista escolher qualquer Ponto de Cultura para realizar a residência, dentro ou fora da região onde reside.
O material referente às inscrições deverá ser enviado pelo correio (SEDEX ou carta registrada) para o endereço abaixo, de acordo com o contido no edital:
Fundação Nacional de Artes – Funarte
BOLSA INTERAÇÕES ESTÉTICAS – RESIDÊNCIAS ARTÍSTICAS EM PONTOS DE CULTURA 2012
Rua da Imprensa, 16 – 6º andar / Setor de Protocolo – Castelo
Rio de Janeiro – RJ
CEP 20030-120
A avaliação das propostas será realizada por uma comissão de seleção composta por 11 membros de reconhecida idoneidade, notório saber e capacidade de julgamento nos campos de abrangência da Bolsa, sendo um deles representante da Funarte e um representante da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural, nomeados em portaria pelo presidente da Funarte.
Entre os critérios que norteiam a seleção estão a criatividade e inovação (originalidade das ações e busca de novas práticas e relações no campo cultural); metodologia (organização, planejamento e método de execução); impacto social da proposta (aspecto quantitativo e qualitativo); contribuição cultural e estética (valor simbólico da experiência proporcionada pelo projeto para o artista e para a comunidade); sustentabilidade (capacidade da proposta de se articular com outras redes, criando práticas e oportunidades sustentáveis no campo da arte e da cultura).
Acesse ao lado o edital e demais anexos, em “arquivos relacionados”.
Mais informações
cepin@funarte.gov.br
(21) 2279-8082

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Negócios da arte contemporânea

Você têm interesse em discutir temas atuais sobre o mercado de arte, oportunidades de inserção dos artistas visuais no mercado nacional e internacional, interação das artes visuais com outras áreas e, dentro de todo esse contexto, aprender sobre a economia da arte contemporânea?

A dica de #arte do centro cultural para o dia 17/08 (sexta-feira) é a palestra de Negócios da Arte Contemporânea, ministrada por Ana Letícia Fialho. Confiram!

Sobre o artista visual HÉLIO ROLA





HÉLIO ROLA: OS MATIZES DA ARTE 
(entrevista conduzida por Floriano Martins)
O artista plástico Hélio Rola (Fortaleza, 1936), dentre inúmeras outras atividades, é um dos heróicos remanescentes da chamada arte postal, com a particularidade de não havê-la cultivado da maneira anódina como era praticada nos anos 70, e que logo desaguaria em um grafismo sem substância alguma. Plasticamente, Hélio deu a essa arte postal a condição de um diálogo constante com as demais técnicas (guache, xilogravura, nanquim, escultura etc.) às quais segue recorrendo para expressar sua visão de mundo. Com obra tão extensa quanto múltipla, esse artista tem exposições em países como Alemanha, Espanha, França e Estados Unidos. A presente entrevista permite uma aproximação de várias etapas de sua vida e criação, aspectos que se confundem revelando uma afortunada inquietude. (F. M.)
Tua formação, excetuando a extensa parcela de autodidatismo que a caracteriza, inclui aulas na Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), em Fortaleza (anos 40), e no Art Students League, em Nova York (anos 60). Os dois cursos distam 20 anos entre si. Como exatamente se inicia o artista Hélio Rola e qual importância teriam esses estudos na definição de uma estética?
Após refletir um pouco sobre a questão do autoditadismo, concluí que o autodidatismo em estado puro não existe. Aprender qualquer coisa é um ato social, penso. Senão vejamos: nasci em Fortaleza em 1937 e me iniciei nas artes plásticas criança ainda quando riscava, desenhava nas calçadas da vizinhança com outras crianças. Também sofri de influência de D. Eneida, mãe de amigos meus, que desenhava, com perfeição , artistas de cinema e caras bonitas encontradas em revistas e jornais. Aquilo me fascinava e logo estava eu às voltas com o hiper-realismo . Fazia arte pública, grafites, e logo desenhos a lápis, seguidos de desenhos a tinta nanquim, guache etc. Passei então a fazer guaches combinando com tinta nanquim de cenas de meu cotidiano. Lembro-me que uma dessas tentativas era na cena habitual de nossa orla, nos fins de semana, debaixo de um grande pé de fixus-benjamin, no jogo de baralho que os adultos da orla organizavam. Esses desenhos despertavam admiração e cheguei mesmo a ganhar uns trocados fazendo retratos a lápis que melhoraram quando fui levado a visitar e conhecer Jean-Pierre Chabloz. Fiquei encantado com os desenhos de Chabloz. Meu pai era garçon de um bar-restaurante no centro da cidade, o Majestic, que também tinha cinema. Para lá iam todos - políticos, advogados, médicos etc., e também artistas. Meu pai, Antonio Rola, era amigo do poeta Sidney Neto, do cronista Caio Cid, do artista R. Kampos, dentre outros. Acho que de tanto propalar que tinha um filho pródigo , que desenhava e pintava, alguém lhe disse que me levasse para conversar com algum artista. Só me lembro que foi o Antonio Bandeira - no Salão de Abril, na antiga Assembléia, no centro da cidade - quem viu meus desenhos e me aconselhou a freqüentar a SCAP, e assim se deu. Teve até nota em jornal dizendo que o filho do garçon Antonio Rola era um artista etc. Depois da SCAP, continuei estudando, conseguindo uma bolsa de estudos de um deputado estadual por Russas (Ceará), Manuel Matoso, e fiz o ginasial e o científico no Colégio São João, um colégio de elite. Daí passei no vestibular em primeiro lugar e me formei em medicina, seis anos depois, em 1961. Entre 62 e 64, fiz pós-graduação na USP (São Paulo), e defendi tese em 66, obtendo o título de Dr. em Medicina. Voltei então para Fortaleza e me tornei professor de bioquímica na Faculdade de Medicina da UFC. Em 1967, fui para Nova York, fazer pós-doutorado, como assistente de pesquisa, no Instituto de Saúde Pública de Nova York, onde fiquei até 1970. Em meio aos afazeres científicos, um dia recebi visita de um casal que queria me conhecer por ser brasileiro, pois pretendia saber como localizar literatura sobre bandoleiros do Nordeste, especialmente Lampião. Ele, Joe Tobin, se apresentou como pintor e ela, Margareth, como escritora. Através de um tio que morava em Russas, consegui uns três livros que me foram enviados pouco tempo depois. Eles ficaram extremamente gratos, daí nascendo uma feliz amizade entre nós. Eu estava em Nova York com a família, minha esposa Efi e os filhos, André (4 anos) e Sílvia (1 ano). Por conta das conversas sobre arte, e não somente sobre ciências, retomei a emoção de minha infância e voltei às artes plásticas. O Joe Tobin me deu orientação durante um certo tempo, em seu ateliê particular na rua 14. Um velho prédio famoso por abrigar artistas ao longo do tempo. Posteriormente ele me aconselhou a procurar a pintora Agnes Hert, que era instrutora de pintura na Art Students League, e que também tinha ateliê no mesmo prédio. Tratei então de me matricular ali. Estudava aos sábados, a tarde inteira. Passei a freqüentar museus e galerias, muitas vezes acompanhado de minha instrutora, uma excelente pessoa, com aproximadamente uns 50 anos. Ao final de minha estadia em Nova York fiz uma exposição em nosso apartamento. Tiramos todos os móveis do lugar e os trancamos em um quarto. De repente, havia ali uma galeria funcionando. Algumas coisas foram vendidas. Ainda em Nova York, fui influenciado por um amigo brasileiro que me iniciou em fotografia, que foi extremamente oportuno e importante para mim, em meu fazer artístico.
Essa condição de autodidata torna-se um obstáculo quando se pretende um desdobramento da criação artística, com o estabelecimento de cursos, por exemplo. Claro que me refiro a um plano institucional. O gênio brasileiro é pouco afeito à escola, já o sabemos. Inversamente, o douto acadêmico padece de bloqueio de percepção. Como vês a relação entre essas duas instâncias em se tratando do universo das artes plásticas no Ceará?
Fica claro que meu audodidatismo se deveu ao fato de ter feito uma carreira científica e ter vivido dela. Não há livre arbítrio. Eu tinha uma família para cuidar e não enveredei pelas artes tendo em mente deixar de ser cientista. Minha vida se ampliou. É claro que daí advém sofrimento e injustiças. Os cientistas, quando querem me desvalorizar, me chamam de artistas. E os artistas, por sua vez, me chamam de cientista. Fica claro que eu tenho o desfrute de dois espaços de realização pessoal. Não somos seres multidimensionais? Em resumo, fui aprendendo como podia. Veja só: em Nova York fiz minhas primeiras tentativas na xilogravura. Foi pouca coisa, mas deu para sentir, e sobretudo me deixar influenciar pela xilogravura dos expressionistas alemães… nos livros e museus. Então o que estava dormente, reservado, veio à tona, em 1994, tendo em conta influência que sofri do Eduardo Eloy, bem como do clima da oficina de gravura que ele animava no MAUC - Museu de Arte da Universidade Federal do Ceaá. Aqui em Fortaleza vejo desenvolvimento de uma iniciação autodidata (mas nunca isoladamente) em um espaço de convivência centrado naquele fazer. A gravura é uma atividade artística especialmente coletiva.
Em relação à sua pergunta, salvo algumas exceções louváveis, a comunidade artística em atividade aqui em Fortaleza é composta primordialmente por artistas autodidatas, mas já começam a aparecer os artistas escolarizados, com diploma. Depois disso, por conta da competição, teremos sem dúvida a guerra dos diplomados contra os autodidatas e detentores de notório saber. Ainda mais agora, com a proliferação de escolas e cursos de artes, a idéia de profissional vai ganhar o mundo e as exclusões elitísticas/sindicais virão, sem a menor dúvida. Esperemos.
Em 1987 participas da criação do Grupo Aranha, cuja proposta era uma mescla de arte coletiva e mural. Gostaria que me falasses um pouco da formação do grupo e de suas interferências na paisagem urbana de Fortaleza. Que destino encontraram os painéis de pintura mural coletivos pintados naquele momento? Onde eles estão atualmente?
Eu e minha família começamos a pintar muros na Praia de Iracema, bairro onde morávamos, para acabar com o lixão que existia na esquina da rua Potiguares com Tremembés. Muitos amigos participaram das pinturas que aconteciam nos finais de semana, inclusive o Sérgio Pinheiro. Anos depois, em 1987, quando de nosso retorno de Paris, Sérgio e eu, é que ele teve a idéia de organizar um grupo de artistas para pintar muros, inicialmente apenas no mesmo bairro. Daí surgiu o Grupo Aranha, que era formado por mim, Sérgio Pinheiro, Eduardo Eloy, Kazume e Alano de Freitas, dentre outros. O grupo não era fechado e nem sempre tinha a mesma composição nas performances. O ateliê, depósito de tintas e material de pintura, era na minha casa. É claro que conciliar essa diversidade de artistas não foi tão simples. Primeiro começamos pintando cada um a sua coisa. Dividíamos o muro em quatro partes iguais (democracia?) e cada um pintava a sua. O resultado, apesar do lado a lado, era um painel de individualidades. Depois evoluímos, passando a pintar todos o projeto de alguém. Pintamos o muro de uma mercearia seguindo um projeto de Kazume. Lembro-me que o Eduardo Eloy estava no Uruguai e não participou, mas teve seu retrato incluído na pintura. Bom, a evolução veio por conta dele mesmo, Eloy, que defendia uma pintura solta/ação, que envolvesse a todos. Como nesses termos eu já me entendia com ele - havíamos pintado a quatro mãos em outra oportunidade -, fiquei entusiasmado. O tipo de pintura daí surgida, revelava uma diluição de autoria e fazia com que afluísse um autor coletivo. Havia resistência por parte dos demais, que temiam - segundo penso - que aquela maneira de pintar viria a afetar sua própria arte. Os murais na Praia de Iracema deram o que falar. Como fazíamos carga contra a poluição sonora e a ocupação indevida dos espaços urbanos - tendo isto coincidido com o movimento SOS Iracema -, passamos a ser notícia nos jornais locais, enquanto sofríamos as retaliações do mercantilismo corrosivo (travestido de turismo) que ali se implantava. Uma dessas pinturas, em um dos muros do bairro, em frente ao atual bar Bicho Papão, foi desfigurada, na calada da noite, pelo proprietário de outro bar, que se achou injustiçado e agredido pelo mural. Como você vê, a pintura, as artes plásticas, pela primeira vez aqui entre nós se tornava uma prática artística explicitamente revolucionária (?), que denunciava com arte agressões sofridas pelo bairro.
Em 1996 te encontras ligado uma vez mais a uma atividade coletiva, o grupo Tauape, cuja exposição Tauape Xilogravuras percorreu cidades como Fortaleza, Rio de Janeiro, São Paulo, Buenos Aires e Berlim. Todas as críticas acerca dessa exposição referem-se ao essencial resgate empreendido por vocês no tocante à tradição da xilogravura. O próprio perfil estético dos seis artistas, a distinção existente entre eles, já assinala uma condição nova e consistente na utilização de uma técnica. Que mudanças observas no tratamento da xilogravura desde aquele momento até os dias de hoje?
Acho que no momento isto não é mais do que uma observação feita por poucos. O que se constata é uma verdadeira inflação (no bom sentido) de artistas, iniciantes ou não, que se dedicam à xilogravura em Fortaleza. As diversas manifestações mostram que a prática da xilogravura foi resgatada e perdeu as amarras com a idéia de uma arte-cabra-da-peste, e com a subordinação santeira habitual e ganhou o mundo, do museu Portland (EUA) até os confins da Cracóvia…
Em 1999 participas de uma exposição sobre arte construtiva. O conjunto de tua obra (pintura, muralismo, gravura, escultura, arte postal), no entanto, não possui um único componente que a aproxime do construtivismo. De alguma maneira, isto me recorda a definição de estilo dada por René Crevel: "segredo de costureira, arte de arranjar os restos". Seria movido por uma concordância com Crevel que aceitas participar de uma exposição em torno do construtivismo?
Meu envolvimento com a arte construtiva veio por influência direta do Zenon Barreto. Depois que voltei de Nova York, em 1970, quase que diariamente visitava o Zenon e daí, de conversa em conversa, sobretudo vendo o que ele fazia, tudo isso aliado às influência s de Paul Klee e Volpi, saí de uma pintura de conotação expressionista para um jogo de cores, geométrico, de repetição de um módulo criando um equilíbrio entre cheios e vazios. O módulo de repetição era uma casinha de porta e janela. Em 1975, retornei a Nova York onde passei dois meses de férias e pude apreciar e curtir de fato trabalhos dos americanos Mark Rothko, Frank Stella, Barnet Newman e outros. Ampliei minha sensibilidade, minimalismo e expressionismo abstrato ou figuratico etc. Em relação à minha participação recente em uma mostra do MAUC/CE, ao lado de artistas construtivistas da Europa, em face do que expus acima não tem nada de estapafúrdio, pois me foi possível produzir uma série de trabalhos que geraram alguns interesses. Posso voltar ao tema e àquele fazer a qualquer momento. Já em relação ao que disse Crevel, é costura mesmo, pois quem se rende à uniformidade, ao fio condutor , por conveniência de mercado, sempre perde alguma coisa.
No catálogo da exposição Tauape Xilogravuras na Alemanha, em texto assinado por Heinrick Stahr, se faz referência a uma relação entre caos urbano e imagens caleidoscópicas no tocante às tuas xilogravuras ali apresentadas. Idêntica leitura se poderia fazer de série de guaches apresentadas em individual em Fortaleza (2001). Até que ponto o que é denúncia se confunde com saudosismo em tua leitura das sociedades contemporâneas?
Você bem sabe que a maneira de fazer faz a arte, faz a vida. Os guaches e as xilogravuras daquela época se encontram na sobrecarga de imagens. Só que o humor das xilos é agressivo e inquietante, enquanto que o dos guaches, por conta das cores, é feliz e brincalhão. Perdão, porque sei que tudo é dito por alguém ao outro alguém que pode ser ele mesmo. No caso, eu mesmo. Depois de sua pergunta refleti e arrisco a dizer que saudosismo e denúncia são a mesma coisa.
De volta ao lamaçal dos conceitos: por mais que se fale em expressionismo figurativo para situar tua amplitude estética, penso que realizas uma arte afeita à intranqüilidade, mágica ou fantástica, no sentido de uma inquietude permanente. Gérard Legrand observou a fusão entre consciente e inconsciente levada a termo por Max Ernst. Talvez pudesses falar um pouco de tuas identificações com outros artistas. Bem sei que trabalhas movido por uma volúpia, que te deixas perseguir incansavelmente por uma idéia, uma suspeita, um estalo. De onde vem isso, que afinidades encontras com teus pares e o que pretendes?
Aprecio muitos e muitos artistas. Sofrer influências não tem um fundamento racional. Tudo não passa de um encaixe emocional. Eu, como você sabe, e por conta de não viver da arte - apesar de viver fazendo-a -, é que me dou a liberdade de tentar coisas em várias direções. Em Paris, no Centro Cultural de Val-Fleury, em 1981, fiz uma exposição múltipla de pinturas, desenhos, objetos, fotomontagens etc., intitulada Artesanato do cotidiano . Entretanto, desde o reinício em Nova York e depois do natural entusiasmo por Van Gogh, Matisse, Picasso etc., o que me chamou atenção mesmo foram os expressionistas alemães. Mas nunca me contive diante de uma pintura do inglês Francis Bacon. Para uns pode parecer incompreensível o fato de me tocar muito a pintura dos estadunidenses Frank Stella, Kenneth Noland, Barnet Newman etc. É claro que morando em Nova York tive a chance de ver bastante coisa. O problema, na definição do artista, são as interdições advindas do mercado e da crítica. Não fica bem para um artista fazer uma coisa hoje e outra amanhã, segundo dizem. Por que não? Meus parabéns para os artistas especialistas, que vão a fundo em suas buscas.
Bem, em relação a meus pares e afinidades. Antes da influência do Zenon Barreto, tive as influências de Nova York. Picasso, Matisse, Paul Klee etc. O Zenon me fez experimentar na arte construtiva. Também fiz uma boa parceria com o Sérgio Pinheiro em Paris, entre 1979 e 1980. Enquanto ele desenvolvia uma linha abstrata, a la Mondrian, eu me dediquei a tirar figuras da caixa, algo na linha de Pandora, tirar da caixa o que ela pudesse oferecer. Para mim, o resultado foi interessante e as esculturas de hoje são fruto de um trabalho - a lógica da caixa que começou em Paris nos anos 80. Já os guaches vêm das influências que recebi do Eduardo Eloy e da pintura do Grupo Aranha em sua fase de pintura ação. Tanto admiro, como já disse, uma pintura como a do Barnet Newman como a de um Oskar Kokoshka. Se gosto, me identifico emocionalmente com tal e tal maneira de fazer arte, por que não fazê-la? Em resumo, e claro, uma caricatura, acho que o artista para curtir sua arte deveria era arranjar um emprego, para poder fazer sua arte como quisesse e não esconder suas pesquisas díspares dos amigos e colecionadores.
Humberto Maturana nos fala de "uma cultura alienada no mercantilismo", síntese que abrange competitividade, inveja, falsidade ideológica, desprezo pelos valores comuns. A normatização do lucro - e seus derivativos de massa (casa lotada, prêmios, capas de revista etc.) - ilude facilmente uma consciência artística em estado embrionário, como no caso brasileiro. O mercado de arte passa a ser visto como contraventor e o artista como vítima. Recordo o sentido de religare dado à criação artística em si. Até que ponto a arte nos separa, tendo se tornado desagregadora?
A arte nos une na procura e no encontro do novo em todas as dimensões de nosso viver. Mas o pano de fundo, cultura (patriarcal) da competição, nos desagrega e nos rouba o sentido do humano que é a solidariedade. Não há solidariedade no mercado. A arte, ou o que quer que assim seja chamado, não é uma entidade com existência fora do nosso fazer humano. A arte surge quebrando consensos, mas acaba por se tornar consenso (é quando ela morre para renascer quebrando o próprio consenso antes estabelecido). Você vai dizer que na ciência e em qualquer outro afazer humana é a mesma coisa. É mesmo!
Tua opção por uma arte postal possui uma distinção essencial em relação a uma maioria absoluta de recorrência ao meio: o intrínseco valor artístico. O discurso inócuo e sobretudo a pirotecnia formal desgastaram um promissor veículo de idéias. Hoje resulta fastidioso deter-se em veleidades como poema visual, arte postal e corruptelas similares. Observo tudo isto pensando na equívoca idade das formas. Perdemos o sentido do diálogo? Há uma lei de mercado que estabelece relação promíscua entre forma e conteúdo? Por que tanta sub-arte bate à nossa porta?
É uma pena que a força da arte postal tenha arrefecido ao longo do tempo. Não é mais fashion . Mas, para mim, atende às minhas emoções. Faço um desenho, escrevo algumas coisas, ou cometo uma poesia, e envio para várias pessoas. Assim amplio meu raio de ação. Não tenho eMail, mas o cartão postal vai longe. Por exemplo: faz tempo que eu envio o Rol@net, que é como chamo minha arte postal, para muita gente, inclusive críticos de arte como Jacob Klintowitz, Paulo Herkenhoff, Olívio Tavares, Lisbeth Rebolo... Concordo, perdemos o sentido do diálogo e o artista atual, meus pares, não parecem muito preocupados com esta questão. Acho que o que você chama de relações promíscuas entre forma e conteúdo é o resultado de se ver e ter a arte tão-somente como uma mercadoria. A arte é mais do que isso. E vê-la tão-somente assim sem dúvida a empobrece. Temos vários casos aqui mesmo em Fortaleza, ou seja, não de uma arte bruta, mas de uma arte embrutecida, a arte entre aspas. É a arte boa-noite-cinderela, ou seja, a arte, como é feita hoje, claro que embrutece.
Qual a cidade ideal para o Hélio Rola? Todas as obsessões de tua obra estão vinculadas a um compartilhar situações, ou seja, ninguém mora sozinho em tua visão de mundo. Com tanta maquiagem borrada, haverá uma possibilidade do artista recuperar sua condição de indicativo de algo?
Minha cidade? Uma cidade para mim? Aquela na qual artistas fossem todos e não se tivesse o abuso social nem a degradação ecológica. Basta de campanhas humanitárias, vamos viver a igualdade e a legitimidade do outro ser. O único indicativo de algo, segundo penso.
   

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Litografias de Dalí em exposição em Sobral- CE


Uma coleção com 105 litografias do artista plástico catalão Salvador Dalí será exposta a partir do dia 8 de junho, no município de Sobral, a 250 quilômetros de Fortaleza. As obras ficarão disponíveis para o público a partir do dia 31 de maio, como atividade paralela da Imprima 2012, que começou no dia 18 de maio e segue o até 15 de agosto, na Escola de Cultura, Comunicação, Ofícios e Artes.

As litografias fazem parte de uma série realizada pelo artista surrealista para ilustrar a Bíblia Sagrada, entre 1963 e 1969. Dalí ilustrou outras obras de destaque, como Ricardo 3º, de Shakespeare, Don Quixote, de Cervantes, A divina comédia, de Dante Alighieri, e Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Gravuras, colagens e litogravuras invadem a cidade de Sobral, no Ceará


                          Foto: Divulgação
                         Obras de José Rincón e Salvador Dalí participam de exposições em Sobral, no Ceará.
                         por Fergs Heinzelmann
                         Published: 21 Maio 2012


Desde o final de semana passado acontece em Sobral, no Ceará, uma mostra competitiva internacional de gravuras, a IMPRIMA 2012. O evento, que tem a intenção de tornar-se bianual, surge com a proposta de estimular e divulgar a produção artística da gravura nacional e internacional, apresentando um panorama da gravura contemporânea. Nesta primeira edição reúne trabalhos de artistas de 34 países. E já que o assunto é arte internacional, acontecem duas exposições de nomes bem conhecidos em paralelo: Salvador Dalí e José Rincón.
Concorrem na mostra obras de 170 artistas das mais diversas localidades. Além dos trabalhos de brasileiros, nomes vindos da Alemanha, Argentina, Armênia, Bélgica, Bósnia, Bulgária, Canadá, Chile, Colômbia, Coreia do Sul, Cuba, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, Grécia, Holanda, Hungria, Inglaterra, Itália, Japão, Kosovo, Lituânia, Macedônia, México, Polônia, Porto Rico, Sérvia, Romênia, Rússia, Turquia e Ucrânia integram a lista de selecionados. Para o primeiro colocado será oferecido o Prêmio Raimundo Cela, no valor de 10 mil reais. O segundo e terceiro colocados serão contemplados com prêmios de 5 mil e 2,5 mil reais, respectivamente. Além disso, a possibilidade de expor individualmente na Casa da Cultura de Sobral também faz parte da premiação.
E quem passar pela cidade cearense até o dia 15 de agosto poderá conferir ainda os trabalhos dos dois ilustres espanhóis, expostos na ECOA – Escola de Cultura, Comunicação, Ofícios e Artes e na Casa de Cultura de Sobral, respectivamente. "Dalí: Bíblia Sagrada" conta com 105 litografias do catalão, feitas entre 1963 e 1969 para ilustrar a Bíblia Sagrada publicada pela Rizzoli Edições, em Milão na Itália. As peças compõem o acervo do colecionador espanhol Juan Javier Bofill, que gerencia o museu Dalí-Barcelona, na Espanha. Já "Colagens...de fina estampa..." traz uma compilação de colagens a base de gravuras recortadas de José Rincón. “Estas suas gravuras recortadas abstratas constroem colagens figurativas onde fábricas, figuras humanas e árvores povoam esta nova exposição”, explica o curador da exposição, Francisco Lara. Rincón ministrará ainda um curso de introdução à gravura para artistas locais entre os dias 29 e 31 de maio.








IMPRIMA SOBRAL 2012
Mostra Competitiva
Abertura: 18 de maio, às 19h
Até 15 de agosto de 2012
ECOA – Escola de Cultura, Comunicação, Ofícios e Artes
Endereço: Travessa Adriano Dias Carvalho, 135 – Centro
Horário de Funcionamento: terça a sexta das 8h às 12h e das 14h às 21h; sábado das 9h às 12h e das 17h às 21h; domingo das 17h às 21h. Grátis

José Rincón Colagens...de fina estampa...
Abertura: 01 de junho, às 19h
Até 15 de agosto de 2012
Casa da Cultura de Sobral
Endereço: Av. Dom José, 881 – centro
Horário de Funcionamento: terça a sexta das 8h às 12 e das 14h às 21h; sábado das 9h às 12h e das 17h às 21h; domingo das 17h às 21h. Grátis

Salvador Dalí
Abertura: 08 de junho, às 19h
Até 15 de agosto de 2012
ECOA – Escola de Cultura Comunicação Ofícios e Artes
Endereço: Travessa Adriano Dias Carvalho, 135 – Centro
Horário de Funcionamento: terça a sexta das 8h às 12h e das 14h às 21h; sábado das 9h às 12h e das 17h às 21h; domingo das 17h às 21h. Grátis

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Imprima Sobral começa hoje. Evento agrupa mostra competitiva de gravuras e individuais de Rincón e Dalí

Imprima Sobral começa hoje. Evento agrupa mostra competitiva de gravuras e individuais de Rincón e Dalí
Foram apenas dois meses de inscrições abertas para o Imprima Sobral 2012 - Mostra Internacional de Gravura. Considerando que será realizado pela primeira vez, foi com surpresa que a organização do evento recebeu mais de 300 inscritos de vários continentes. Ao final, foram selecionados 142 artistas de 34 países para a mostra competitiva que começa hoje e segue até 15 de agosto, no Instituto Ecoa, em Sobral.

Para Roberto Galvão, diretor-presidente da instituição, o que fez a diferença foi a força da comunicação pela internet, o que acarretou em surpresas como a participação dos artistas turcos, que aparecem atrás apenas do brasileiros em número de obras. "Conseguimos trazer muitos dos grandes nomes do circuito mundial, artistas já premiados", conta.

Quem visitar a exposição encontrará um bom painel da produção mundial contemporânea de gravuras. Há tanto trabalhos construtivistas e abstrações informais quanto obras figurativas. O primitivismo, de forte movimento no Ceará, não estará representado. "Não recebemos sequer inscrições", explica Galvão. As técnicas também aparecem variadas, com xilogravuras, gravuras em metal, litografias e água-forte.

Durante a cerimônia de abertura da mostra, hoje, serão conhecidos os três artistas premiados da mostra, poderão ser convidados a realizar exposições individuais na Casa da Cultura de Sobral. O primeiro lugar recebe o Prêmio Raimundo Cela e uma premiação em dinheiro no valor de R$ 10 mil. O segundo e o terceiro colocado ganham, respectivamente, R$ 5 mil e R$ 2,5 mil. A comissão de seleção foi composta pelos artistas Antônio Carlos Campelo, Francisco Lara e Roberto Galvão.

Dalí
Além da mostra competitiva, a Imprima Sobral terá mostras especiais, com destaque para "Salvador Dalí Aqui", composta de 105 gravuras do artista catalão. Uma oportunidade de conhecer uma parte menos conhecida do trabalho de Dalí, mais famoso por suas telas surrealistas, mas que transitou com desenvoltura pelos terrenos do cinema, teatro, fotografia e até da moda e joalheria.

A mostra será aberta no dia 8 de junho, com a coleção completa de litografias "Dalí: Bíblia Sagrada". Trata-se de uma série encomendada por Giuseppe Albaretto, amigo do artista, que desejava, com isso, atraí-lo de volta ao catolicismo. As peças foram criadas entre 1963 e 1969 e impressas pelas Ediciones Rizzoli, de Milão, na Itália.

A coleção vem do Museu Salvador Dalí, em Barcelona, na Espanha. O diálogo com a instituição começou ainda em 2008, quando esta recebeu uma exposição de obras de Chico da Silva, e prosseguiu em 2009, com a exibição de trabalhos de Siegbert Franklin. "Como já existia essa relação com o museu, a ideia de trazer essas gravuras de Dalí quando estávamos fazendo a programação pareceu muito oportuna", explica o curador Francisco Lara.

Colagens
O evento contará também com a individual "Colagens... de fina estampa...", do espanhol José Rincón, com gravuras originais, que será aberta no dia 1º de junho, na Casa da Cultura de Sobral. Formado pela Escola de Belas Artes de Madri, Rincón possui obras em vários museus espanhóis, como Calcografia Nacional e Museu Rainha, além de coleções e instituições internacionais. "É o mais importante nome da gravura hoje", frisa Francisco Lara.

José Rincón é também um dos artistas convidados que participam de atividades de formação direcionadas a artistas locais, ministrando de 29 a 31 de maio curso de introdução à gravura. Além dele, realizam palestras gratuitas e abertas ao público a búlgara Plamena Dimitzova Racheva, membro da Associação Internacional de Críticos de Arte (Aica), e a espanhola María Teresa Jiménez, professora de Historia da Arte da Universidad Nacional Educación a Distancia (Uned), da Espanha.

Haverá ainda outros espaços, como a coletiva "Gravados de Pastrana", exposição que reúne parte do acervo da Imprima, composto por obras de artistas do Ceará, de outros estados e países. Um local será destinado aos gravadores do Maciço de Baturité. Para quem achou a programação extensa, a intenção dos organizadores é ampliar a programação a cada edição do evento, que deve ser bianual.

Público
A expectativa da organização é de atrair 30 mil pessoas para a Imprima Sobral. Até hoje, o recorde de público no Ceará é da exposição do escultor francês Auguste Rodin, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, no ano 2000, com 75 mil visitantes. "Estamos otimistas porque conseguimos trazer 3 mil pessoas em exposições regulares e sabemos que um nome como Dalí gera curiosidade", aposta Galvão.

Para ajudar nesse objetivo, foi feito um trabalho pedagógico junto às escolas públicas municipais, com cerca de 30 monitores. Além disso, está sendo montada a Escola Augusto Pontes, com oficina de gravura. A ideia é estimular um movimento gravurista em Sobral, berço de renomados artistas que se tornaram icônicos no uso dessa técnica, como Zenon Barreto.

SAIBA MAIS
Imprima Sobral 2012 - Mostra Internacional de Gravura. De 18 de maio a 15 de agosto em Sobral, Ceará, na ECOA (Travessa Adriano Dias Carvalho, 135 - Centro). Gratuito. Contato: (88) 3611 2712

Mostra especial Colagens...de fina estampa... - Individual do artista José Rincón. De 1º de junho a 15 de agosto, na Casa da Cultura de Sobral (Avenida Dom José, 881 - Centro). Gratuito.

Mostra especial Salvador Dalí Aqui - Individual com 105 gravuras de Salvador Dalí. De 8 de junho a 15 de agosto, na ECOA. Gratuito.

MÔNICA LUCASESPECIAL PARA O CADERNO 3