domingo, 10 de julho de 2011

texto da revista cotinuum de junho:A ARTE COMO FESTA

TEXTO mariana lacerda
“Ele gostava de festas, em especial a de São João”, conta o antropólogo Henrique Magalhães. Refere-se ao amigo Flávio Império, com quem dividiu, com outras pessoas, uma casa no bairro da Aclimação, em São Paulo, na década de 1970.
Artista múltiplo, Flávio Império, morto em 1985, aos 50 anos, tinha especial carinho pelo interior do Brasil. Os mercados públicos, com sua alegre movimentação, o encantavam. Nesses lugares, interessava-se pelos artefatos e pelas criações da gente brasileira.
Nasci no Bexiga e lá me criaram
por certo, um dia, eu virei “arquiteto”
depois “professor”
depois “cenógrafo”
depois “pintor” […]
[Trecho de texto autobiográfico publicado em 1977, no catálogo da exposição coletiva Alegres Pintores do Bexiga, no Teatro Igreja e Célia Helena, São Paulo]
Império nos deixou uma obra composta de serigrafias, pinturas e projetos arquitetônicos. Fez cenários e figurinos para grupos (e montagens) importantes, como as do Teatro de Arena e do Teatro Oficina, de São Paulo. Ao todo, e esse é só um exemplo, criou sete cenários e figurinos para espetáculos da cantora Maria Bethânia (que, avessa ao uso do preto no palco, trajou, uma única vez, um vestido dessa cor, desenhado por Império). “O teatro me ensinou a vida; a arquitetura o espaço; o ensino a sinceridade; a pintura a solidão […]”, descreveu em poema autobiográfico. Suas viagens pelo interior do Brasil e o contato com as pessoas e suas artes acrescentavam a seu poder criativo repertórios de materiais e de marcas fortes, novos modos de trabalho, além de inspiração de linguagem e expressão. Eram achados simples, como o pano chamado de “carne-seca”, refugo dos processos de impressão da indústria de tecidos, padrões manchados e machucados encontrados à venda a preço de quase nada. Eles eram transformados por Império em bandeiras e telas.
Aprender fazendo
A festa de São João foi tema de uma das exposições de Flávio Império. A arquiteta e cenógrafa Maria Cecília Cerrotti, a Loira, amiga e parceira de trabalho que também compartilhou com ele e Magalhães a casa da Aclimação, conta que a referência às festas juninas surgiu de forma mais direta na exposição Festa de São João, em 1973, por ocasião da inauguração do Centro de Estudos Macunaíma, em São Paulo. “O [artista plástico] Claudio Tozzi trouxe da pop art as gravuras em silk-screen e nós, que imprimíamos cartazes para o grêmio da FAU, fomos transformados, por ele, em impressores. Assim fui apresentada ao Flávio. E o Flávio à serigrafia. Seu primeiro projeto conosco foi Sou Pedro, Sou Antônio e Sou João”, conta Loira. As telas, bem como as bandeiras, outra marca do artista, estão expostas durante os meses de junho e julho no Itaú Cultural, na exposição Ocupação Flávio Império, uma homenagem ao artista.
A mostra revisita um jeito de expor do qual Flávio Império gostava: um ateliê em funcionamento no próprio espaço expositivo. Visitantes viam então a obra nascer. Podiam participar dela, integrando-a. Foi assim nas mostras Coisas & Loisas (1978) e Matrizes, Filiais e Companhias (1979), em que Império colocava em prática uma de suas grandes crenças na arte: a de aprender fazendo. O artista trazia para o centro do fazer criativo o sentido do encontro, da festa – como escreveu a artista plástica Renina Katz, também amiga de Império, em um texto publicado no convite da exposição Pintura e Muita Bandeira (1980): “Continuo achando que a sua pintura é uma festa no sentido mais amplo da celebração da vida. Festa onde o desenho prepara a imagem para ser impregnada de cor, luz e transparência […]”. 
 Flávio Império em segundos
Flávio Império (São Paulo SP 1935 – idem 1985). Arquiteto, torna-se o mais respeitado e prestigiado cenógrafo de sua geração. Obtém reconhecimento também como artista plástico e diretor de arte. Morre pouco antes dos 50 anos, tendo entrelaçado a arquitetura e as artes plásticas, a cenografia e a direção de arte com inusitadas e renovadoras perspectivas. Fonte Enciclopédia Itaú Cultural de Teatro. Acesse verbete do artista na íntegra em itaucultural.org.br/enciclopedias (clique na opção teatro).

Acesse itaucultural.org.br/ocupacao e saiba mais sobre a Ocupação Flávio Império.

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